Macabéa me entenderia

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010 |

“Macabéa entendeu uma coisa: Glória era um estardalhaço de existir. E tudo devia ser porque Glória era gorda. A gordura sempre fora o ideal secreto de Macabéa, pois em Maceió ouvira um rapaz dizer para uma gorda que passava na rua: ‘a tua gordura é formosura!’”.


Desculpe-me a fotografia, o cinema, as artes plásticas, a dança e o teatro, mas a literatura me tira o fôlego. Descobri em Clarice um refúgio. Em Macabéa  uma irmã. Tão insignificante, idiota e fascinante. Limpando o catarro na barra da combinação.

“Você sabe se a gente pode comprar um buraco?”. Sim pode, quando a gente morre tem que pagar por um, e caro. “Mulher de deputado é deputada também?”. Na teoria não, mas na prática sim, peruas ricas que gastam dinheiro público e aparecem em revistas. "Eu gosto tanto de parafuso e prego...". Eu prefiro os pregos, parafusos são muito complicados.

Como era bom conversar com Macabéa. De uma sabedoria de asno. De uma burrice acadêmica. Ela sempre questionando o mundo ao redor. Acordava mais cedo aos domingos para ficar mais tempo sem ter o que fazer. É uma pena que tenha morrido tão cedo e de forma tão brutal. Tão sábia que morre a se perguntar: ''E quanto ao futuro?''. O futuro, querida Macabéa, sabe de si

Sábado

domingo, 14 de fevereiro de 2010 |

Dia da Criação

Vinícius de Morais
I
Hoje é sábado, amanhã é domingo
A vida vem em ondas, como o mar [...]

Hoje é sábado, amanhã é domingo
Não há nada como o tempo para passar [...]

Impossível fugir a essa dura realidade
Neste momento todos os bares estão repletos de homens vazios
Todos os namorados estão de mãos entrelaçadas
Todos os maridos estão funcionando regularmente
Todas as mulheres estão atentas
Porque hoje é sábado.

2010

domingo, 3 de janeiro de 2010 |

Mudou alguma coisa?

Melodrama

terça-feira, 15 de dezembro de 2009 |

"Vocês jovens não sabem lutar pelas coisas. Pensam que a vida é tudo prazer. Pois não é. Tem que sofrer. E muito"
(Pepa em Mulheres à Beira de Um Ataque de Nervos - Pedro Almodóvar)

Suspiros poéticos e marias-moles

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009 |

Uma dose de poesia é o mínimo. Pelo menos uma porção de prosa. Ao menos pílulas de sonetos. Ou quem sabe uma injeção de contos. Por costume adoto a intolerância, mas mau gosto literário é imperdoável.

Leitura é fundamental. Nem que sejam as descrições enfatuadas de Alencar, com sua Iracema de hálito de baunilha. Melhor ainda se tiver o requebrado de muriçoca doida de Rita Baiana. É necessário diferenciar um soneto de uma sextilha. Um idílio de um epitalâmio. Conhecer a prosa modernista. As aliterações dos simbolistas. E a hipocrisia dos românticos.

Tem-se que olhar com os olhos de ressaca de Capitu. E quem sabe beber coca-cola com Macabéa. Ouvir as histórias de Macunaíma e ter o coração despedaçado pelo mal-do-século. Quem saber ter a saga de liberdade dos condoreiros? Ou a prisão métrica dos parnasianos? É preciso degustar. Mas não só as letras lusófonas.

Não se pode seguir sem ser apresentado ao sórdido pessimismo de Dostoievski. Sem o cinismo do querido Balzac. Que o digam as mulheres de 30 anos. Como me fazem sofrer os poemas de Shakespeare. E as desventuras do jovem Goethe.

Enlouqueço em pensar que morrerei sem ler os livros que devia ter lido. Sem solfejar poemas e redondilhas. Sem resfolegar rimas ricas. Sem angustiar-me com a solidão de Lya Luft. Prefiro o ocaso ao crepúsculo. E a peçonha de víboras ao veneno do escorpião. Cada minuto passado. Páginas que podiam ser lidas. Tempo perdido com besteiras. Leitura atrasada.

"Eu li, leio, lerei, sou uma mulher lida." (Irma Vap)